Complemento do título: Rompimento da Ilha do Cardoso, ligando o mar aberto ao canal
No dia 27 de Agosto a natureza mostrou sua força e dividiu a Ilha do Cardoso abrindo mais uma barra em Cananeia, ligando o mar aberto ao canal.
A Ilha do Cardoso pertence ao Parque Estadual da Ilha do Cardoso desde 1962, através de Decreto Estadual 40.319/1962 e nela residem sete comunidades: Itacuruçá/Pereirinha, Cambriú, Foles, Marujá, Enseada da Baleia, Vila Rápida e Pontal de Leste.
O rompimento da Ilha do Cardoso já era esperado e começou a ser notado há 60 anos. Os motivos não se sabem ainda, mas existem indícios de que a ação erosiva iniciou-se após a abertura do Canal do Varadouro, na década de 40, para ligar Paranaguá/PR à Cananeia/SP, porém a decorrência dos processos erosivos que o ocorrem na face lagunar e na parte costeira podem ter contribuído para a abertura da nova barra. Verificou-se que em março de 2015 a média de erosão ao ano chegava a 1,5m. Entre 2015 e 2016, entretanto, a faixa de areia que separa o canal do mar aberto reduziu de 22m para 12m e a forte ressaca que ocorreu em 29 e 30 de outubro de 2016 diminuiu para menos 2m.
Uma das comunidades que poderiam ser atingidas por esse fenômeno era a Enseada da Baleia, mas em uma estratégia antecipada e a pedido da comunidade à Defensoria Pública do Estado de São Paulo, mudaram-se em Outubro de 2016, depois da grande ressaca. A realocação aconteceu com a mobilização da comunidade e o apoio de doações via facebook, campanhas de financiamento coletivo, festas para ajudar a custear algumas atividades e materiais necessários à reconstrução e parceria do IPeC para ajudar na logística dos mutirões.
A comunidade contou também, desde o início, com o importante apoio da Fundação Florestal, responsável pelo Parque Estadual da Ilha do Cardoso, que destinou madeiras com vistas à construção do píer comunitário, com o IBAMA para a doação de madeiras apreendidas para a reconstrução das casas e com A DERSA que tornou viável o deslocamento desse material, cedendo gratuitamente, uma balsa para a realização das viagens de Cananeia até a comunidade, facilitando a logística e diminuindo os custos do transporte.
Apesar do sofrimento dos moradores por terem que abandonar o local que ocupavam há aproximadamente 170 anos, foi escolhida uma nova área no interior da Ilha do Cardoso e hoje a Nova Enseada (novo nome da Enseada da Baleia) está em um local seguro, que passa de 600 metros de extensão entre os dois mares e 9 km da atual barra.
“É nesse contexto, de enfrentamento aos inúmeros desafios, de esperança no futuro e de confiança na capacidade de reinvenção calçada nas tradições, que a comunidade segue na luta pelas nossas atividades tradicionais”, como conta Tatiana, moradora da Nova Enseada.
Seus 32 moradores, vivem da Pesca Artesanal e do método centenário de secagem de peixe ao sol, da confecção sustentável de produtos criados a partir de resíduo de pesca e do Turismo de Base Comunitária, atraindo turistas com a beleza natural do local e a deliciosa culinária caiçara.
As comunidades se preocupam com as mudanças que podem ocorrer em todo o ecossistema, afetando as atividades pesqueiras, o acesso às comunidades, a educação e a saúde, mas segundo a Fundação Florestal, a região está sendo monitorada e estudada para que possam ser diagnosticados possíveis impactos às comunidades tradicionais. A abertura poderá aumentar, contudo somente com os dados do monitoramento que está sendo feito, será possível informar se outras comunidades poderão ser atingidas futuramente. Hoje, a comunidade mais próxima é a da Vila Rápida e encontra-se a 600 m ao norte do rompimento. A única comunidade que ficou na parte sul foi a de Pontal de Leste. São 15 famílias, totalizando 50 pessoas.
Atualmente, nada muda em relação às divisas de Estados. O Canal do Ararapira e a Barra do Ararapira, continuam sendo as divisões geográficas e físicas entre os Estados e pertencem ao Paraná e a parte ao sul continua sendo território do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, São Paulo.
Foto: André Pedro Noffs
Leave Comment